E enquanto se vendem bundas a fim de se tornarem escravos da fama, escravos do crime vendem o tráfico com o sonho de compra de uma liberdade impossível. No submundo, a consciência da vida interrompida. No sobremundo, a inconsciência da inocência corrompida. O pouco que satisfaz e o muito que não sacia.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Sincronizem. É muito fácil fazer sempre aquilo que se espera de nós. Muitas vezes a renúncia não é tão complicada assim como dizem. Negar a si mesmo não é a maior das batalhas. Afinal, somos sempre construídos para perpetuar isso. Logo cedo, aprendemos a negar nossos desejos. Aprendemos a freiar nossos instintos e somos ensinados a dominar nosso egoísmo. Tratados sempre como cartas-brancas, desenvolvemos a arte de calar nossas opiniões. "Vozes infantis são ingênuas e despojadas de qualquer experiência fática. Não possuem ainda cargas de fatos, lugares ou sobressaltos. O que saberiam dizer? Conhecem apenas continentes coloridos de países governados por fadas." Não é questão de se ensinar a pensar. É a imposição da proibição de pensar. "Relaxem, enquanto construímos seu mundo." E depois de tatuar a submissão e o silêncio, e de selar a paz no feudo, cobram-nos agora a ideia e o conhecimento. Exigem de nós a remissão de seus pecados. "Reajam. Revoltem-se! Criem e restabeleçam a ordem. Gritem suas insatisfações sociais e recusem-se a aceitar o descaso." Ótimo! Agora temos a palavra, o papel e a caneta. Temos a dívida e o crédito. Temos a luz do passado e a alma do futuro. Mas se esquecem do que não aprendemos e nos repassam as sandálias para a estrada. "Vão! Libertem o conteúdo de suas gargantas, desmascarem os falsos profetas e saltem para a infinita galáxia de suas mentes". E assim nós, eufóricos e cheios de esperança, limpamos o pó de nossas bocas, retiramos o lodo de nossos ossos, lançamos às costas nossas mochilas de histórias e recados para o outro mundo, e caminhamos de volta para casa. Porém, ao chegarmos, encontramos apenas a sombra do vazio, e relembramos finalmente de porque nós não nos manifestamos. Nosso povo nos ensinou as letras, o idioma e o som, mas nos roubaram nossas vozes e nossos sonhos, invadiram a lua e explodiram nossos castelos. E sobre nossos ombros arqueados, restou-nos apenas nossas histórias, nosso passado e a imaginação e os recados para o próximo mundo. Então, apenas com nossos olhos e nossos dedos, sem voz, sem lua, sem alvos, reerguemos nossas canetas sobre os papéis amarelados. Fantasmas iluminem-nos, pois só podemos agora desenhar nossos personagens. Como dizer então o que nos esmaga o frágil peito? Mais simples é resignar-se ao julgo. Sorria e concorde.
Minhas patéticas considerações. Sinto o medo me atrair mais uma vez. A dúvida entre a minha capacidade e meus sonhos. Os desejos de coisas que não tenho e que não sei se me apetecerá possuir algum dia. Sabedoria, paciência, empatia. Os sentimentos que tento construir em mim se recusam a brotar. Se chegam a despontar em algum momento, aparentam tão falsos, não convencem. Sinto-me forçada a me reconstruir todos os dias. Pois o que tento ser não me aceita e o que me mostro ser de verdade me assusta. Ontem me decidi a lutar, a não permitir que nada atravessasse meu destino outra vez. Me decorei. Desenhei repetições do que irei alcançar. Hoje já me descobri amaldiçoando-me novamente, rascunhando fracassos, lamentando a não existência. Chôro, mais uma vez. Como se minhas lágrimas histéricas pudessem reconstruir meu castelo de pautas perdido. Esse constante cansaço. Esse leito de facas. Minha revolta não me aperfeiçoa. Minhas experiências não melhoram meu caráter. Sinto um ódio calado, camuflado em apatia. Meus olhos de fogo abafado. Somente fumaça passageira, imperceptível e incerta. A dúvida que penetra a minha página. Instintos secretos, selados. Idas e voltas não vingadas. As férias vazias, do mal que corrói minha inocência, sempre adiadas. Deverei interromper minha espera. A hora vaga, passeia. E minha fera já desperta o mês. Os bocejos da terra engolirão o passado, farta e fugaz. Seis meses verei. A Glória ou Fim.
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