sábado, 24 de abril de 2010

Um caldeirão. Como poderia descrever melhor? Não havia separação ou qualquer ruptura de ideias. Lançavam todos os nomes, e gostos, e opiniões e formavam aquela maravilhosa massa homogênia de fanfarrões. Se vestiam de princesas e dragões, pintavam as faces e iluminavam tudo com purpurina. E de repente já nos víamos cercados de falsários, glutões, personagens mudos e pedaços de personalidades sem coração. Nos iludiam com sucesso, apresentando suas canções, suas histórias, seus pequenos bordões com sentidos duvidosos e suas várias facetas estampando suas surpresas e supostos assombros morais. E era tudo tão belo! Por que não? Nos sentíamos como num sonho, a dançar com fadas e gnomos. E lhes confiávamos nossas existências e deixávamos, encantados, que nos dissessem nossos papéis e nossas participações, e que planejassem todo o nosso roteiro. Como se a atuar em um espetáculo universal, tentávamos desempenhar ao máximo nossas funções de figuração. Enchíamos com nossos rostos alegres o cenário do plenário e contribuíamos orgulhosos com a formação da imagem de nossos ícones. E era tudo tão simples, e com promessas de gratas retribuições. Parecíamos grandes quando em verdade éramos não mais do que nada. E parecíamos importantes e cruciais, apesar de não nos ser permitido qualquer gesto ou manifestação individual. E era tudo tão lindo não é mesmo? Por que não? Nossa palavra de ordem era liberdade de expressão. Nos diziam que poderíamos manifestar sempre o que pensássemos. Mas não percebíamos que só pensávamos o que nos diziam. E, é claro, alguns de nós sentíamos que estávamos sendo sempre guiados, e vivíamos sempre cercados, e amávamos sempre o que nos era ditado. Mas era tudo tão bonito, e tão perfeito, e tão completo! Olha só: nós votávamos. Éramos cidadãos. Nós não éramos livres? E não éramos afinal, uma família, um povo, uma nação??? Ah... era tudo tão lindo... E éramos felizes no caldeirão. E éramos tudo que sonhávamos. E sonhávamos que tomávamos as decisões.