Lembro-me ainda com clareza daqueles tempos de criança-adolescente, em que brincava com um certo limite de fé, que iria dominar o mundo. Faria da guerra uma eterna espera e da loucura ingênua a lei dos humildes. Seria etérea e certa, ditando aos adultos seus castigos, caso não cessassem suas impiedosas tolices. E diria inevitável aos súditos desobedientes: "Cortem-lhes a cabeça!" ou quem sabe "Cortem-lhes a sobremesa!". Brincava de ser grande, sem entender que depois teria vontade de brincar de ser criança. Não era capaz nem mesmo de compreender o real sentido da palavra 'domínio'. Tão incrustado nas palavras 'força' e 'disciplina' e tão debilmente dependente das palavras 'limite', 'responsabilidade' e 'sabedoria'. Pensava inocente que conseguiria ter controle sobre a humanidade. Mas hoje percebo que não consigo gerir minhas próprias vontades. Mudo de humor como quem troca de roupa e substituo minhas idéias com a velocidade dos meus pensamentos. Não permaneço por muito tempo apoiada em uma das pernas, mudando incessantemente de posição. Hoje quero a solidão e amanhã já necessito de amigos. Vejo o mundo girar ao redor de mim e minha cabeça girando ao redor do corpo. Enlouqueço em pensar que sou a mais normal das criaturas e tento me rebelar contra a ditadura dos hormônios. Não sei se sou química ou energia. Não sei onde está minha alma e se ela irá acabar um dia. Penso na eternidade e no tempo que isso iria durar ainda. Descer não é uma opção e voltar não está escrito nas linhas de minhas mãos. Cresci apenas para ver que ainda sou pequena e se carecia de proteção e de um guia, hoje muito mais preciso que me mostrem a direção. Se toco piano, perco o comando dos dedos, se empolgo na história, vejo meus lábios conversando sozinhos e não consigo determinar ao meu próprio coração, músculo independente e autoritário, quando bater ou não. O universo é assim, sem controle mas no mesmo instante autodeterminado. E eu, que bobinha... Achava que iria dominar o mundo. Desculpe-me seres humanos. Sem Deus, somos somente cegos dançando em círculos e compondo canções. Não me seguro e não me impulsiono. Não decido quando vou e não me detenho. Minha mente é quem vai à medida que lhe dão corda e que o criador a atrai.
sábado, 5 de junho de 2010
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