Será que esta tela em branco tem algo a me dizer? Carrega em si todas as cores assim como levo em mim todas as dores, sem deixar transparecer. Ela une unevitável o início do texto e seu fim na mesma linha imaginária que torna a vida um ciclo de censura e prazer. É como minha fé, escrevendo a história a partir daquilo que não posso ver, me conduzindo a idéias que só conhecerei no último parágrafo, no último pedaço de existência inalado. Este espaço de construção infinita é como um trecho de pensamento incompreendido.
Redigir é permitir que as palavras nasçam livres, diferentes dos homens, que já nascem agarrados à sua história, presos a seus ancestrais através de um cordão umbilical. Este branco ilimitado é meu céu, livre de homens, cheio de asas. E é minha linguagem que me permite explorá-lo e sondá-lo. E este canto de liberdade e medo é meu segredo, é meu rochedo, é meu por inteiro. Esta tela em branco é minha casa, é de onde saio e pra onde volto em seu tempo. Amo este lugar porque ele não me prende, me deixa ir e voltar. Volto quando quero e sei que sempre será assim tão particular. Este lugar tem meu cheiro e esta tela, que (sim) me diz tudo ou nada, é o ponto de partida para todas as coisas que eu quiser (ou não) compartilhar.