Tanta gente passa por mim todos os dias e nem sente. Nos esbarramos nas ruas, na esquina, no cinema, na padaria, na drogaria. Cada um carregando um mundo inteiro dentro de si, sentimentos de amor, ódio e agonia. Tanta gente atravessa o meu caminho e me atravessa, como se fôssemos apenas fantasmas perdidos, longe de casa. Tanta gente vivendo suas próprias idéias, seus próprios enredos, solitárias mesmo quando juntas.
E este planeta tão resoluto, firme em seus movimentos de translação, rotação e sua viagem em direção a seu próprio fim, levando consigo uma coleção de histórias inacabadas, de desencontros planejados ou inesperados, de juventude ou mesmo cabeças esbranquiçadas enterradas antes do tempo, em seus destinos ou catástrofes generalizadas.
Tanto medo, tanta coragem fingida, tanta indiferença e coragem verdadeira daquele que já não se importa. A perfeição bate à porta. Peso ideal, carreira profissional, casa na praia, viagem no carnaval. Tanta gente buscando aquilo que se vende nas vitrines, nas novelas, nas redes sociais, mas nunca pode ser comprado. Tantos corpos caminhando ao meu lado sem notar o meu fardo, sem dividir seu cansaço. Tantos ombros caídos, tantos cenários cabisbaixos, tantos carros que nunca param, trancados em seus vidros escuros, em seus corações cicatrizados.
A humanidade é numerosa, mas nossa humanidade é pequena e medrosa. Tantos de nós que se escondem, carregando marcas de roupas, de perfume, de jóias, e disfarçando suas marcas de desilusão e dores passadas.
Quantos de nós nos conhecemos, mas não sabemos quem somos. Já destruímos nossas colunas de tanto manter nossos ombros caídos. Tanto desânimo, tanto esgotamento. O mundo se cansou de nós e nós nos cansamos uns dos outros? Tanta gente que não se entende. Nos esquecemos ou nunca compreendemos que pertencemos à mesma espécie? O mundo é pequeno pra suportar tantos mundos diferentes dentro dele.