Estava tudo bem.
Será que estava mesmo?
Uma caixa, uma concha. Uma capa escondendo um
tufão. Anos arrastados sem verão. Dias tristes, frios, ruidosos. Um tempo sem
palavras e sem gargalhadas. Um teatro cego e mudo. Mentiras embrulhadas em rotina. Falta de fé.
Dias sem razão. Desespero em taças de vinho.
Alma cansada. Personalidade embaralhada. No peito a cicatriz de um rasgo, ressecado, cauterizado. Camadas de
moda sobre um estômago vazio. Maquiagens espalhadas pelo balcão. A tinta na pele escorrendo em vão.
Infidelidade. Um camaleão misturando-se à
multidão. Falta de identidade. Ausência de conhecimento. Pessimismo. Um olhar
sobre o passado. A estaca do amado sobre seu coração. A contradição entre as
palavras e as idéias. A dissolução do que já não era.
Difícil colorir na escuridão. Melancolia em
lenços de papel. O toque vazio sobre a tela. Despedida. Ao longe, no
pensamento, uma última fagulha, lentamente se apagando.
Silêncio. Louca sobriedade.
Estava tudo muito bem.
Mesmo.
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