quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Sincronizem. É muito fácil fazer sempre aquilo que se espera de nós. Muitas vezes a renúncia não é tão complicada assim como dizem. Negar a si mesmo não é a maior das batalhas. Afinal, somos sempre construídos para perpetuar isso. Logo cedo, aprendemos a negar nossos desejos. Aprendemos a freiar nossos instintos e somos ensinados a dominar nosso egoísmo. Tratados sempre como cartas-brancas, desenvolvemos a arte de calar nossas opiniões. "Vozes infantis são ingênuas e despojadas de qualquer experiência fática. Não possuem ainda cargas de fatos, lugares ou sobressaltos. O que saberiam dizer? Conhecem apenas continentes coloridos de países governados por fadas." Não é questão de se ensinar a pensar. É a imposição da proibição de pensar. "Relaxem, enquanto construímos seu mundo." E depois de tatuar a submissão e o silêncio, e de selar a paz no feudo, cobram-nos agora a ideia e o conhecimento. Exigem de nós a remissão de seus pecados. "Reajam. Revoltem-se! Criem e restabeleçam a ordem. Gritem suas insatisfações sociais e recusem-se a aceitar o descaso." Ótimo! Agora temos a palavra, o papel e a caneta. Temos a dívida e o crédito. Temos a luz do passado e a alma do futuro. Mas se esquecem do que não aprendemos e nos repassam as sandálias para a estrada. "Vão! Libertem o conteúdo de suas gargantas, desmascarem os falsos profetas e saltem para a infinita galáxia de suas mentes". E assim nós, eufóricos e cheios de esperança, limpamos o pó de nossas bocas, retiramos o lodo de nossos ossos, lançamos às costas nossas mochilas de histórias e recados para o outro mundo, e caminhamos de volta para casa. Porém, ao chegarmos, encontramos apenas a sombra do vazio, e relembramos finalmente de porque nós não nos manifestamos. Nosso povo nos ensinou as letras, o idioma e o som, mas nos roubaram nossas vozes e nossos sonhos, invadiram a lua e explodiram nossos castelos. E sobre nossos ombros arqueados, restou-nos apenas nossas histórias, nosso passado e a imaginação e os recados para o próximo mundo. Então, apenas com nossos olhos e nossos dedos, sem voz, sem lua, sem alvos, reerguemos nossas canetas sobre os papéis amarelados. Fantasmas iluminem-nos, pois só podemos agora desenhar nossos personagens. Como dizer então o que nos esmaga o frágil peito? Mais simples é resignar-se ao julgo. Sorria e concorde.